De acordo com pesquisa, há uma tendência entre jovens brasileiros de busca por formação em outro país para garantir futuro de emprego e renda.
Heitor Alves Fonseca tem 14 anos e já quis ser astronauta.
Quando ele pensa no futuro profissional, vem à mente uma lista de carreiras possíveis, como medicina e direito – que estão, em maioria, atreladas ao seu gosto pessoal. Bem provável, no entanto, é que, conforme diz, ele siga mesmo na área da economia, seguindo assim os passos do pai, que é gestor em uma grande empresa.
Pensar no futuro é uma constante não só na vida de Heitor mas também na de muitos outros adolescentes e jovens que, como ele, buscam antecipar a concretização de determinados sonhos que alguns só realizam em idade adulta. Entre esses sonhos, está o interesse em estudar e viver no exterior. Heitor é estudante do nono ano do ensino fundamental em uma escola bilíngue em Goiânia. A Maple Bear é uma instituição de ensino que prepara alunos tanto para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quanto para serem encaminhados diretamente para universidades estrangeiras assim que eles concluem o ensino médio.
A procura por esse tipo de direcionamento acadêmico tem crescido no Brasil. Um levantamento feito no ano passado pela Student Travel Bureau (STB), uma consultoria especializada em educação, mostrou que no comparativo entre os anos de 2019 (pré-pandemia) e 2022 houve um aumento em 30% de jovens brasileiros que buscam formação no exterior. De acordo com a pesquisa, os países mais procurados por eles são Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Austrália e Irlanda.
Para Heitor Alves Fonseca, o incentivo para ir para outro país começou em casa. “Eu vejo o estudar fora como uma grande oportunidade para desenvolver as habilidades que eu tenho. Sempre achei isso muito importante, mas meus familiares também sempre me incentivaram muito. Eles veem no ensino estrangeiro uma boa janela para o meu futuro”, diz.
O adolescente gosta de estudar e conta que dedica pelo menos 70% do tempo que tem ao longo da semana para focar nos estudos. Tem um dia que fica em período integral no colégio e nos demais tem de focar nas muitas outras atividades que ocupam, inclusive, os fins de semana. O propósito é nobre pois tudo serve para garantir uma formação adequada e que deverá auxiliar na hora de tomar uma das grandes decisões, daqui a uns três anos, que é a escolha do curso universitário.
“Eu sei que é uma decisão que eu posso mudar a qualquer momento, mas a gente ainda tem um tempo para pensar. É algo que vai definir os rumos da nossa vida”, pontua Heitor.
Embora o período seja de dedicação total aos estudos, ele não titubeia em dar uma desopilada, ou seja, não se preocupar tanto de vez em quando. Heitor lê e também ama assistir a sitcoms. Na lista pessoal, inclui “Friends”, “The Office” e “O Gambito da Rainha” – e faz questão de ressaltar que consegue assistir a todas elas no original, em inglês, sem muitas dificuldades.
“Eu acho que já adquiri um nível bom no inglês”, afirma ele.
O professor de matemática, Flamarion Moreira, concorda com isso. Ele recorda que neste ano os alunos foram para uma temporada de atividades na Alemanha e, por lá, Heitor se destacou. “Tinham equipes e eles falavam em diversos idiomas.
O Heitor foi um dos intérpretes tanto para o pessoal que falava em inglês, quanto para o pessoal que falava em português”, conta o professor.
As viagens ao exterior enquanto ainda se é estudante funcionam como estímulo para atiçar os interesses dos alunos, ampliar a visão de mundo e trabalhar a questão do idioma. De acordo com Carolina Nassif, coordenadora acadêmica da escola, além da necessidade da proficiência em inglês, a maior parte das universidades estrangeiras fazem a análise curricular para aprovar o ingresso do aluno, ao invés de uma prova seletiva.
A instituição em Goiânia emite dois diplomas, um brasileiro e um canadense.
“Nosso propósito é proporcionar oportunidades para que nossos alunos sejam preparados para a vida, para que alcancem seus objetivos, onde quer que eles estejam ou queiram estar”, ressalta a coordenadora acrescentando que o acesso rápido à informação e a conectividade instam na juventude o desejo por experiências transculturais, que significa na prática o vivenciar de novas realidades.
Luiz Drummond, 14, que também estuda na mesma escola de Heitor, tem um exemplo de dentro de casa: a mãe dele, quando jovem, fez intercâmbio nos Estados Unidos.
Luiz sonha com países europeus, como a Itália, diz que não tem dificuldades de adaptação com novos lugares e que manter o esforço e a constância são atitudes essenciais para quem quer alcançar sucesso em seus objetivos.
“Eu não sou uma pessoa que desiste muito fácil”, diz o estudante enquanto retoma o pensamento a respeito das carreiras que enxerga como possibilidades para o próprio futuro.
Luiz conta que é bom em disciplinas da área de exatas, como matemática e física, e as tirou de letra na recente viagem que ele e os outros colegas da escola fizeram à Alemanha, para um campeonato de robótica.
“Uma das melhores experiências que eu tive nessa viagem foi quando a gente se reuniu com [representantes] de outros dois países para tentar fazer uma prova. Em uma dessas provas, que nos reunimos com as Filipinas e a China, a gente conseguiu vencer”, conta Luiz ponderando que saber falar em inglês fez toda a diferença.
“Alguns chineses lá não sabiam falar em inglês e a gente acabou por ter que comunicar com eles fazendo mímica, pegando o robô e explicando o que fazer.” O coordenador de ensino fundamental 2, Luiz Augusto Bastos, explica que apesar de o colégio atuar de forma intencional no preparo dos estudantes para irem para fora do país e realizarem diversas iniciativas que corroborem para isso, a escolha no fim das contas segue sendo do aluno e do acordo que ele faz com sua família. “O facilitador é o fato de a escola ser bilíngue. Com o mundo globalizado, essa tendência está crescendo. Mesmo que os custos para estudar sejam elevados, em alguns casos existem as oportunidades ofertadas por bolsas de estudo”, diz. “E tem muitos alunos que vão querer ir para o exterior, mas outros, também por opção, vão ficar no Brasil. O legal é ter a liberdade para escolher.” (Especial para O Hoje)
Heitor e Luiz Drummond têm um exemplo dentro de casa para querer buscar estudar fora: a mãe.